A tecnologia blockchain vem se tornando cada vez mais popular ao redor do mundo. Sua aplicação pode ser vista de diversas maneiras como tokenização, formas de pagamento, ferramenta de governança e intersecção com inteligência artificial. Este texto surge com a ideia de destrinchar o processo de tokenização, trazendo exemplos já existentes na indústria e oportunidades que poderão ser vistas em um futuro próximo.
A tokenização consiste no processo de transformar um ativo real em um ativo digital, a partir da criação de um token, que pode ser definido como o registro de tal ativo no formato digital, com o blockchain garantindo segurança ao processo. Um dos benefícios deste processo é dar liquidez para ativos únicos. A tokenização permite dividir em diversas frações itens como peças de arte, imóveis e patentes, democratizando o investimento em diversos setores.
Exemplos de ativos tokenizados
O primeiro vem da NBA. O jogador Spencer Dinwiddie, armador do Brooklyn Nets, resolveu tokenizar o seu contrato no começo do último ano. O processo sofreu certa resistência da própria NBA, sendo aprovado depois de cerca de seis meses. Os compradores do token de Spencer receberiam juros mensais pelo investimento.
O segundo exemplo é brasileiro. Em dezembro de 2020 o Vasco da Gama, em parceira com o Mercado Bitcoin, tokenizou seus diretos de crédito referentes ao mecanismo de solidariedade, um valor pago pela FIFA ao clube formador em transferências internacionais. Um grupo de 12 atletas revelados pelo Vasco está representado no token e qualquer transferência destes atletas traz um retorno para quem investiu no token. Com a venda deste ativo, o clube arrecadou cerca de R$ 3 milhões.
Outras oportunidades
Além dos dois exemplos citados, existem diversas outras possibilidades de tokenização na indústria esportiva que serão analisadas nos próximos parágrafos.
Atrair o engajamento com o fã na era da economia da atenção é um dos desafios mais difíceis de todas as empresas de entretenimento. Aqui estão inseridas também as entidades esportivas, que ganharam a concorrência dos esports e dos diversos aplicativos de streaming disponíveis no mercado. Muitos dos clubes utilizam programas de recompensa para tentar atrair a atenção do torcedor, oferecendo produtos físicos ou experiências, algo que diminuiu durante a pandemia da covid-19.
É aqui que entra o processo de tokenização. Substituir os programas de pontos por tokens, para serem posteriormente trocados inclusive por dinheiro, pode ser a saída necessária, facilitando ainda o trabalho de coleta e análise de dados ao utilizar a tecnologia blockchain. Neste sentido, a empresa Liquidteam produz tecnologias que possam auxiliar entidades a relacionar a tokenização com sua estratégia de Fan Centricity.
Quando era possível receber torcedores nos estádios, o processo de venda de ingressos trazia algumas dificuldades para os clubes. O custo com a operação das entradas e a criação de mercados secundários e cambismo são alguns exemplos. Implementando o uso de tokens neste processo, essas dificuldades diminuem de tamanho.
A segurança do blockchain é capaz de reconhecer todos os compradores dos tokens originais, o que tornaria a fraude dentro deste mercado algo difícil de ocorrer. Isto facilitaria ainda no momento de reconhecer possíveis responsáveis por brigas ou qualquer ato de preconceito dentro de um estádio ou ginásio esportivo.
Nos últimos anos presenciamos algumas equipes buscando financiamento para construção ou reformulação de seu estádio ou centro de treinamento. As soluções encontradas foram diversas, desde tradicionais parceiros até crowdfunding que envolveu os torcedores como no caso do Vasco da Gama.
No entanto, nenhuma instituição utilizou a tokenização para facilitar este processo. Dividir propriedades físicas em tokens é um dos princípios básicos do processo, o que possibilitaria que fãs e até mesmo investidores adquirissem parcelas do patrimônio recebendo recompensas financeiras ou experiências com o clube como forma de pagamento.
Existem diversas formas de aplicar o processo de tokenização de ativos dentro do mercado esportivo. Para tanto, é preciso popularizar este tipo de investimento, dentro da sociedade brasileira e, principalmente, entre os fãs de esporte do país.
A partir da popularização deste mercado, surge uma série de oportunidades para startups de blockchain apresentarem suas soluções para a indústria esportiva, ainda mais em um momento em que a entrada de novos recursos financeiros é tão importante para todas as modalidades.